Texto: Mahavidya
Colaboração: Eraldo Alves Leite
Recife, Dezembro/2023.
Esta demonstração de solidariedade por parte de João Santiago e o respeito mútuo são constatados pela forma com a qual Levino Ferreira, num gesto de intensa simpatia e agradecimento, responde com outro poema imortal intitulado “Resposta”. De tal forma estas duas músicas se complementam e falam alto deste sentimento, a solidariedade, que vale a pena ser lembrada sempre.
É unanimidade entre psicólogos, sociólogos, antropólogos e principalmente entre músicos e musicólogos, que a música é um veículo abrangente para expressar e comunicar sentimentos entre nós os humanos. Sendo assim, os compositores utilizam-se dos mais variados gêneros musicais para expressar sentimentos pessoais ou coletivos, desde os mais recônditos aos mais socializados. apresentamos a criação de três músicas, por dois dos maiores artífices do frevo: João Santiago e Levino Ferreira.
O fato, ocorrido no final de 1961, chega ao nosso conhecimento graças à paixão pela música e por sua
habilidade em documentar a
história do carnaval.
Qualidades inerentes ao insigne pesquisador e radialista Hugo Martins.
Comentário de João Santiago
“Eu tenho um respeito todo especial a esse grande músico. A esse homem que deu tudo de si para o
carnaval de Recife.
Porque frevo... Frevo lembra sempre Levino. Eu costumava visitá-lo e as músicas de Levino eu recebia
todas elas.
E num dado momento eu estive na casa do Levino".
Prosa:
João Santiago:
"Aí Professor, como vai o senhor, coisa e tal... o frevo?"
Levino respondeu:
"Esse ano eu mandei o frevo e não gravaram".
João Santiago:
"E o velho tava triste, cabisbaixo.
E eu tinha que gravar umas músicas, mas, as minhas músicas eram frevos de bloco, não eram frevos de
rua.
E eu saí de lá triste, lá da Rua da N. Senhora da Saúde, eu saí triste. Estava inquieto e com aquela
sensação estranha.
Então eu cheguei em casa me sentei, peguei o instrumento, comecei tocando e fiz a letra.
No dia seguinte quando saí, logo cedinho, encontrei com Estélio Gonçalves, que era o presidente da
CCR, e ia fazer um disco
e ele me chamou pra eu colaborar.
Então, eu me lembrei e disse:
Eu fiz uma música assim-assim, rapaz, e fiz pro Levino escutar; mas eu queria que você conseguisse
botar uma música dele nesse disco.
Então, o Estélio me pediu: você vai à casa dele e pede pra ele fazer a música pra ser gravada.
Então eu voltei pra casa do Levino e deixei o recado: Diga a ele que prepare a música que eu venho
apanhar pra gravar.
Mas, pra isso o tempo era curto, quando cheguei lá a música ainda não estava pronta.
E o Levino terminou essa música na perna e me entregou.
Às onze horas da noite nós gravamos o frevo dele, que teve o título Cheguei na hora.
E eu já tinha feito o Escuta Levino”.
CRÔNICAS LEVINO FERREIRA E JOÃO SANTIAGO - Acervo do Museu do Frevo Levino Ferreira.