Pesquisa: Eraldo Leite
Recife, outubro de 2024.
Comentários (Ipsis litteris):
• Hugo Martins - Radialista
• Samuel Valente - Historiador
• João Paulo Lima e Silva - Prefeito do Recife
O TEMA É FREVO
Começamos o programa O Tema é Frevo em 10 de outubro de 1967.
Ao completar dez anos fizemos, com o apoio do então Reitor da Universidade de Pernambuco, professor
Paulo Maciel, o primeiro disco da série que recebeu o título de O Tema é
Frevo ano 10, com a Banda da Polícia Militar de Pernambuco, regida pelo maestro
Severino Martins, e com arranjos de
Lourival Oliveira.
Nos anos que seguiram, continuamos a produção da série sempre com a Banda da Polícia Militar de Pernambuco. O compositor e pesquisador Samuel Valente sempre esteve conosco na elaboração de textos e seleção das músicas, escrevendo os comentários dos encartes e contra capas dos LPs.
Na direção musical contamos sempre com notáveis maestros: Correia de Crasto, Severino Martins, Luiz Caetano.
Muitos compositores gravaram suas músicas pela primeira vez, vários frevos tradicionais executados durante muitos anos nas ruas do Recife e Olinda nos dias de carnaval, foram gravados pela primeira vez na série. Citemos alguns: "Sorriso" de autor desconhecido, que data de 1890, dos arquivos do Clube das Pás; "Frevo nº6" de Alberto Carvalho, do Clube Vassourinhas, entre outros.
Revivemos, também, tiramos dos discos de 78 rotações, vários frevos de compositores famosos como Levino Ferreira, Zumba, Nelson Ferreira, Carnera, Capiba, Raul Moraes, Toscano Filho, que em 1972 compôs o frevo-de rua "O Tema é Frevo" especialmente para o programa do mesmo nome, o qual foi gravado originalmente pela Banda da Base Aérea do Recife, discos Rosenblit.
Esta coleção da série O Tema é Frevo, comemorativa ao Centenário da palavra "Frevo", faz parte da história da cultura musical de Pernambuco e dos 40 anos do programa "O Tema é Frevo" transmitido pela Rádio Universitária da Universidade de Pernambuco. Uma produção e apresentação de Hugo Martins.
Nossos agradecimentos à Prefeitura da Cidade do Recife e ao seu Prefeito Sr. João Paulo, por tornar possível esta idéia brilhante do Presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Fernando Duarte.
Comentário:
Hugo Martins
1- VASSOURINHA
Composição: (Matias da Rocha/Joana Batista)
Theodoro Matias da Rocha, um mestiço que trabalhava no matadouro do Cabanga, violonista e maestro e um dos fundadores do Clube Vassourinha, de parceria com sua prima, Joana Batista Ramos, pernambucana, morena e viúva de Amaro Vieira Ramos. A música de maior impacto no Carnaval Pernambucano. O maestro Luiz Caetano (1924) fez um arranjo especial para este Frevo e criou, ao seu estilo, as variações originais, concebidas por Felinho. O próprio Caetano, fez questão de executá-las, em maravilhosos solos de saxofone.
2- BATUATAS DE SÃO JOSÉ
Composição: Levino Ferreira
Levino Ferreira da Silva (1890) era natural de Bom Jardim-PE. Não apenas autor do gênero frevo instrumental, também compôs frevos cantados e marchas de bloco, além de valsas, canções e peças semi-eruditas. Era conhecido, e carinhosamente chamado de Mestre Vivo, em vista de um ataque cataléptico, sofrido com apenas um ano de idade, deixando tristes, familiares e vizinhos, que pensavam estivesse ele morto. Após a crise, para felicidade de todos, o garoto ganhava o apelido de Vivo. Nesta marcha de bloco, até agora inédita em gravação, ele homenageia o bloco de sua predileção, o Batutas de São José.
3- O SORRISO DE FABIANA
Composição: Samuel Valente
Samuel da Silva Valente Neto (1942). Musicólogo e compositor, recentemente convidado pelo mestre Gilberto Freyre para participar, na Fundação Joaquim Nabuco, do III Congresso Afro-Brasileiro. Aos dezessete anos de idade, incentivado pelo poeta Mauro Mota, iniciou, no Diário de Pernambuco, sua carreira no jornalismo; Hélio Pinto, logo depois, levou-o ao Jornal do Commercio, para as páginas do futebol. Em 1965, Haroldo Praça o colocou no Diário da Manhã, onde semanalmente, escrevia sobre música e folclore. “ O Sorriso de Fabiana” homenageia a sua primeira filha, Fabiana Valente, nascida no dia 02 de junho de 1982.
4- CHEGOU A SUA VEZ
Composição: José Felipe
José Felipe Santiago Reis (1893), um dos Cinco Formigões do carnaval pernambucano. Pai do não menos famoso compositor e folclorista, João Santiago. Com Leonardo Chaprom, Artur Gabriel, Nino Galvão, Casaquinha, Zuzinha, Antônio Sapateiro, entre outros, José Felipe formou no “naipe” dos melhores autores da música carnavalesca pernambucana. Por vezes esquecido uma cruel injustiça ao grande músico, instrumentista, exímio no bombardino, arranjador, maestro e compositor. Decerto que a posteridade, numa reavaliação de seu trabalho, terá, para José Felipe, um lugar de merecido destaque na história da música do carnaval de Pernambuco.
5- AURINHA DO FREVO
Composição: Severino Martins
Do capitão Severino Martins, da Polícia Militar de Pernambuco, uma das grandes revelações como autor de frevos instrumentais. Mestre da banda daquela corporação, instrumentista, regente e arranjador, Martins compôs, especialmente para o sexto volume desta coletânea, a obra, de rara beleza melódica, Aurinha no Frevo, justa e carinhosa homenagem a sua filha mais velha.
6- RETRATO ANTIGO
Composição: Cirinéa Amaral
Cirinéia Amaral é natural de Caruaru-PE. Pianista e compositora. Formada em Licenciatura em Música pela UFPE. Fez parte do Coral do Bento de Núrsia, do Centro de Educação Musical do Colégio São Bento e do Coral da Universidade Federal. Em “Retrato antigo”, sua estréia em gravações, a poetisa entrelaça ternura e saudade, embalados numa melodia de rara sensibilidade poética e musical. Até agora inédita em disco.
7- NO FIM DÁ CERTO
Composição: Jones Johnson
Jones Phillips Johnson (1904-1972), filho de inglês, nascido na cidade do Cabo de Santo Agostinho-PE. Exímio clarinetista. Ratinho, o da famosa dupla com Jararaca, ao ouví-lo, logo tratou de leva-lo à presença de Nelson Ferreira, que lhe abriu caminhos para tocar no Grupo Musical do Teatro Moderno e na orquestra da PRA-8. Fundou a Orquestra Sinfônica do Recife, atualmente contando com a participação de dois de seus filhos, os violoncelistas Geraldo e Marisa. No Fim dá Certo incluído nesta coletânea, foi originalmente gravado por Zacarias e orquestra, RCA Víctor, carnaval de 1948.
8- OS PÁSSAROS
Composição: Hugo Martins
Hugo Martins (1937) é natural de Rio Tinto-PB. Autodidata que se inspira, geralmente, no barroco, nos grandes nomes da música erudita, via de regra, superando todas as expectativas, às vezes, também surpreendendo as grandes formações acadêmicas da música. Desta filosofia sem palavras, do seu interior para o papel, em forma de música, vem compondo e, impondo o seu estilo, em peças carnavalescas, tais como neste “Os Pássaros”, um concerto em tempo de Frevo, ou fantasia, onde logo se percebe o malabarismo de um flautim cantante, executado pelo solista José Ferreira.
9- ALEGRIA DE BERNADETE
Composição: Bueno Ferreira
Bueno Ferreira, além de ser reconhecido como herdeiro musical de Levino Ferreira, é, também, um verdadeiro malabarista do violoncelo, por muito tempo, atuando na Orquestra Sinfônica Nacional. Retornando ao Recife, passou a integrar o Museu do Frevo, da UFPE. “Bernadete” é filha de sua madrinha, irmã de Geralda Farias, a esposa do ex-prefeito do Recife, Antonio Farias.
10- RELEMBRANDO ARTUR
Composição: (Manuel Pimentel/Cidinha Feitosa/Múcio Esmeraldo)
O major Manuel Pimentel, da Polícia Militar de Pernambuco, músico e poeta, figura muito bem relacionada na sociedade recifense, homenageia seu irmão caçula, recentemente falecido, o prof. Artur Pimentel. Na elaboração dessa marcha de Bloco, contou com a parceria do sargento Múcio Esmeraldo, também da PMPE, e da compositora Cidinha Feitosa.
11- DIVA PACHECO E A FANTASIA
Composição: Pancrácio das Neves
Plácido Mendes de Lima (1942), o Pancrácio das Neves, é natural de Recife-PE. Fez parte do elenco da peça “ O Inspetor”. Com o presente Frevo instrumental, presta justa e oportuna homenagem a Diva Pacheco, a admirável dama da sociedade pernambucana, esposa de Plínio Pacheco, o idealizador e o grande responsável pela construção da Cidade de Pedra, a Nova Jerusalém, o maior teatro ao ar livre do Mundo, anualmente. Trata-se da estréia de Pancrácio neste gênero de frevo.
12- FREVO DOS BANCÁRIOS
Composição: Evanildo Maia
Evanildo Maia (1945) é natural de Recife-PE. Músico, instrumentista, arranjador e maestro. Começou os estudos de música na Escola Industrial Agamenon Magalhães, com o professor Lima. Sua formação musical foi substancialmente edificada por outros grandes mestres, entre eles, Mário Câncio, José Amaro e Padre Jaime Diniz. Formado em música pela UFPE. Exímio trombonista, atualmente na Banda Municipal do Recife. Evanildo formou a sua própria orquestra, com ela já tendo gravado cerca de 15 elepês. Na presente obra, homenageia a laboriosa classe dos bancários.
13- A DOR DE UMA SAUDADE
Composição: Edgar Moraes
Edgard Ramos de Moraes (1904-1973) é natural de Recife-PE. Violonista e arranjador da ternura e da beleza nostálgica da música carnavalesca pernambucana dos anos vinte. Ficou conhecido como o General das Cinco Estrelas. “A dor de uma saudade”, é a permanente lembrança do irmão Raul Corumila de Moraes (1891-1937), o pianista e compositor, integrante juntamente com Edgard, da agremiação Os Pirilampos. “A Dor de Uma Saudade” foi sua janela aberta para a saudade, escrita com verdadeiras lágrimas, buscando nos velhos e bons carnavais recifenses, a imagem do irmão querido, Raul Moraes.
14- SORRISO DE FOLIÃO
Composição: Amaro Américo
Amaro Américo um dos maiores entusiastas do Frevo, um folião autêntico, daqueles que realmente se integram, de alma e corpo, às múltiplas culturas musicais de Pernambuco. Portanto, um carnavalesco, no mais verdadeiro sentido da palavra. Um comerciante humilde, que faz do seu “ponto”, na Avenida Dantas Barreto, encontros diários de cantores, compositores e músicos. Amaro Américo conseguiu realizar seu grande sonho, o de gravar em disco músicas de sua autoria.
Comentário:
Samuel Valente
Nesta coleção de CD em que O Tema é Frevo, a forma é dada pelas mãos do pesquisador Hugo Martins, que ao longo de 39 anos vem mantendo, na Rádio e na TV Universitária, um programa dedicado à preservação e à difusão do nosso ritmo maior. Trata-se de uma mescla de composições antigas e atuais, com frevos-de-rua e frevos-de-bloco, em que Hugo Martins também aparece como compositor.
Um trabalho como este só vem enriquecer o leque de iniciativa da programação da Prefeitura do Recife na comemoração dos 100 Anos do Frevo. Daí a nossa satisfação em contribuir com a sua viabilização.
Esta é a forma como o povo do Recife homenageia e estimula a resistência cultural de Hugo Martins em defesa do frevo.
Comentário:
João Paulo Lima e Silva
Fonte: Acervo Fonográfico do Museu do Frevo Levino Ferreira
CD - O tema é frevo vol.6
Produção e Coordenação: Hugo Martins
Direção musical e regência: Cap. Severino Martins
Contra-mestre: Jason Jordão
Assistente de Produção: Pancrácio das Neves
Capa: Hugo Martins
Som e mixagem: Hélio Ricardo e Jailson Romão
Pesquisa: Samuel Valente
Execução: Banda de Frevo da Polícia Militar de Pernambuco
*Vozes femininas do Coral Bandepe
*Os fonogramas deste volume 06 (remasterizados) são oriundos do Lp (vinil) de mesmo título e datam do ano 1982.
