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PAU-BRASIL

Letra e música: Nelson Gomes Ferreira

ÍNDICE

Comentário: Eraldo Alves Leite
Recife, março/2023.

FINALIDADE

Pretendemos com este texto interpretar os significados de alguns termos no contexto da letra musical visando subsidiar a compreensão dos leitores, mormente aos que ouvem, porém não entendem tais termos.

Nelson Gomes Ferreira foi Diretor-Presidente do Bloco Carnavalesco Misto Madeiras do Rosarinho; era observador dos costumes populares, e amiúde, da linguagem corrente no momento da criação deste Frevo de Bloco.

Este Bloco fundado em 7 de setembro de 1926, é registrado na Federação Carnavalesca Pernambucana.
Tem sede social localizada à Rua Salvador de Sá, número 64, no Bairro do Ponto de Parada, Recife/Pernambuco, 1992.

Nelson Gomes Ferreira propiciou ao BCM Madeiras do Rosarinho cinco campeonatos consecutivos e outro posteriormente. O frevo de Bloco “PAU-BRASIL”, por Nelson elaborado com rara maestria, retrata momentos da existência do Madeiras, antes e durante sua gestão como Diretor do Bloco. O título da música deve-se à existência de uma Liga de Dominó mantida por alguns associados do Bloco e que se reuniam para seu divertimento diante da pintura de um tronco de árvore (ao qual denominavam “Pau-brasil”), em uma das paredes da sede

COMENTANDO O TEXTO

Curtir um penta - Aqui tem a conotação daquilo que causa prazer por sua realização; tudo que propicia o deleite que sentimos quando relacionado a um fato ou feito.
O termo curtir é utilizado predominantemente na linguagem popular - que saudade traz!

Vamos falar dos cinco carnavais - (ouçamos o autor) NELSON HEXACAMPEÃO.

Você foi a paixão que não convém - referência a um dos versos da letra do Frevo de Bloco denominado “ASSIM NÃO CONVÉM” - que é, oficialmente, o HINO DO BLOCO CARNAVALESCO MISTO MADEIRAS DO ROSARINHO, cuja autoria é de Lourival Santa Clara.

No CD “Homenagem à Folia - Marchas de Bloco”, gravado pelo Bloco da Saudade, encontramos uma magnífica interpretação deste Frevo de Bloco na faixa quatro.

Erroneamente há quem aponte o Frevo de Bloco “Madeira que o Cupim não rói”, autoria de Capiba, como sendo o hino do Bloco Madeiras do Rosarinho.

Paraquedista, quá-quá-quá, sorriu também - paraquedista é simbolicamente o termo que menciona aquele que “trapaceia” em algum momento, principalmente ao preterir alguém, em benefício próprio ou de outrem. Termo este de uso corrente na linguagem popular há alguns anos passados.

Em Pau-brasil a letra musical refere-se ao fato de, em determinado desfile, o Bloco anunciado para desfilar ainda não se encontrar posicionado, então, aproveitando-se deste deslize desfilou o Madeiras que já estava “pronto”. Fato este que gerou uma disputa musical entre os compositores de ambas agremiações, surgindo então, por parte do Bloco preterido o frevo denominado XÔ, XÔ, PARAQUEDISTA, autoria de Chico Baterista. Ao que o compositor Roberto Bozan, pelo Madeiras, respondeu com o frevo PARAQUEDISTA.

Vem Hercy, gargalhar - Homenageando a jovem Hercy, relembra Nelson um fato que consternou a Comunidade Carnavalesca pernambucana. Hercy faleceu ainda na adolescência; era filha de um dos membros da Diretoria do Madeiras - desse palácio de alumínio podes te orgulhar - Imaginando-se em um diálogo com Hercy, Nelson explicita um termo jocoso surgido quando o prédio-sede do Madeiras teve revestido por placas de alumínio, externamente, seu pavimento superior.

Tempo que marcou - Os fatos ocorridos durante a gestão de Nelson foram relevantes, principalmente pelo fato de haverem entre os Blocos acirradas disputas durante os campeonatos promovidos pela Federação Carnavalesca Pernambucana. Sendo a conquista dos campeonatos consecutivos conquistados pelo Madeiras, motivo de muitos e variados comentários no meio carnavalesco de Pernambuco. - coisas mil - Daí inferirmos que variados fatos foram vivenciados, pertinentes à agremiação e muitos ficaram na memória dos seus partícipes.

Aconteceu virou manchete nesse meu Brasil - Jargão utilizado por uma emissora de televisão. Muito difundido e propalado entre a população local, como forma de ironizar alguém que houvesse cometido algum fato moral ou socialmente reprovável.

Exaltação - Exaltar, glorificar, enaltecer, louvar, engrandecer, elogiar, são sinônimos aplicáveis ao fato referido por Nelson - a quem deu vida, fama eglória - daí este auto elogio em relação aos seus feitos. Em contato pessoal com algumas das figuras contemporâneas de Nelson, constatamos o alto apreço destes personagens pelo trabalho apresentado em prol do Bloco.

Somos Madeiras contando a história, de rocha - Esta frase, de rocha - usada sobejamente na linguagem popular, conduz à afirmação que há todo um conteúdo verdadeiro narrado no contexto carnavalesco recifense. Enfim, pode-se traduzir como a história incontestável, o “de rocha” implica esta conotação. - que o cupim - A figura do cupim é uma alusão à Comissão Organizadora do Carnaval - COC, que em 1962 negou ao Madeiras do Rosarinho o campeonato tão esperado, contrariando toda expectativa dos componentes do Bloco e à plateia que assistiu ao desfile - tentou roer.

Como é sabido, o cupim representa por excelência o maior destruidor de madeiras. Nelson faz com esta frase um paralelo entre a atitude da C.O.C. e a verdade explícita do fato.

Magistralmente Capiba expõe no Frevo de Bloco “Madeira que o cupim não rói” a emblemática frase: “Nós somos Madeira de lei que o cupim não rói”.

Dançou - Termo popular traduzido aqui pelo sentimento de frustração. No imaginário madeirense o fato consumado em 1962 traduz-se como a perpetração de uma injustiça.

Tristeza é baixo astral - Mais uma frase sobejamente utilizada pela população no meio carnavalesco, muito difundida entre os componentes dos vários Blocos Carnavalescos Mistos. Conota que não se deva “curtir” a tristeza, e sim reagir através de uma postura positiva, representada por um alto astral - o que passou, passou - podemos inferir aqui uma frase equivalente, outro dito popular: “águas passadas não movem moinho”. Estes ditos confirmam que o passado serve como referencial temporal, mas não como marca indelével na vida real.

Do Norte ao Sul, Sertão, Os aplausos veio de pé - Nos diz Nelson que este foi um fato do conhecimento em todos os recantos deste país. Mas, os aplausos vieram efusivamente de todos que estavam presentes ao evento e de todos que dele tomaram conhecimento. O vir de pé, remete a uma situação característica de aprovação plena, altamente respeitosa. Vale observar a ausência de concordância verbal na última frase.

E o caneco na mão - Por fim, Nelson assegura que, sob suas duas gestões, seis campeonatos foram conquistados pelo B. C. M. Madeiras do Rosarinho, e mais uma vez alude a um jargão popular com o significado de vitória, uma vez que este foi uma das frases mais pronunciadas por todos que seguiam as conquistas de campeonatos de futebol, durante as Copas do Mundo nas quais a Seleção brasileira de futebol teve representatividade e vitórias.

COMPOSIÇÕES

PAU-BRASIL

Nelson Gomes Ferreira - 1992

Curtir um penta
Que saudade traz
Vamos falar dos cinco carnavais
Você foi a paixão que não convém
Paraquedista, quá-quá-quá
Sorriu também
Vem Hercy gargalhar
Deste Palácio de Alumínio
Podes te orgulhar

Tempo que marcou
Coisas mil!
Aconteceu, virou manchete
Nesse meu Brasil

Exaltação a quem deu vida fama e glória
Somos Madeiras, contando a história
De rocha
Que o cupim tentou roer, dançou

Tristeza é baixo astral
O que passou, passou
Do Norte, ao Sul, Sertão
Os aplausos veio de pé
E o caneco na mão

LP: “Raízes do Frevo” - Federação Carnavalesca Pernambucana - lado B / faixa 04 – Produção: 1992.


ASSIM NÃO CONVÉM

Lourival Santa Clara

Me apaixonei por você
Mas você gosta de alguém
Vou procurar esquecer
Pois sei que assim
Não me convém

Ainda me lembro de um grande amor
Que eu arranjei
Foi pelo carnaval
Tinha uns olhinhos assim como os seus
Mas ao meu coração
Eles fizeram mal

Por isso eu não quero a você declarar
Por que meu amor não chegou até o fim
Pois amanhã não tem mais carnaval
E você com certeza se esquece de mim


HERCY

És assim toda inocência
A bela flor a desabrochar
Vem com todo riso encantado
Nossa folia vem alegrar

És a harmonia ideal
Da nossa canção
Pelo carnaval

Vem, vem Hercy
E aceita enfim essa nossa canção
Somos Madeiras, alegres a cantar
E a vibrar com emoção


XÔ, XÔ, PARAQUEDISTA

Chico Baterista

Deixa de ser presunçoso
Teu lugar é lá atrás...
Esta fila é só pra quem é bacharel
E tem diploma do carnaval
Toma juízo,
Vai pra trás, estás errado.
Ocupa a tua posição.
És um errado, enfim, um vigarista
Xô, Xô, paraquedista!

Olha bem de perto
E presta atenção
Que não está certa
Esta presunção
Deixa de prosa,
Sai daí seu atrevido
Não insista,
Xô, Xô, paraquedista


PARAQUEDISTA

Roberto Bozan

Quem me chamou paraquedista
Não pense que eu vou chorar
A vida só é boa assim

Compõe tu de lá
Eu de cá
És muito jovem pra comparar
Esse Madeiras tradicional

Agora chegou a minha vez
De gargalhar
Quá-quá-quá-quá!

CD: 470.271 - 20 Supersucessos - História do Carnaval - Frevo de Bloco - Faixa 07.


MADEIRA QUE O CUPIM NÃO RÓI

Capiba

Madeiras do Rosarinho
Vem à cidade sua fama mostrar
E traz com seu pessoal
Seu estandarte tão original

Não vem pra fazer barulho
Vem só dizer e com satisfação
Queiram ou não queiram os juízes
O nosso bloco é de fato campeão

E se aqui estamos, cantando essa canção
Viemos defender a nossa tradição
E dizer bem alto que a injustiça dói
Nós somos madeiras de lei que o cupim não rói


PAU-BRASIL (03/maio) dia dedicado à árvore conhecida pelos indígenas pelo nome de IBIRAPITANGA



Arlequim